quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Resenha: Atividades e estratégias do processamento textual

Por: Vanessa Severino Bardini. Aluna de Graduação de Letras Português Inglês da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP-CP)

No momento da comunicação seja ela oral ou verbal utilizamo-nos de instrumentos concretos que organizam não somente o pensamento humano, mas o sistema social em que se insere. Essas unidades significativas se denominam textos que se constituem a partir das necessidades interacionais, logo essas unidades se fazem importantes, pois em si imbricam toda “uma complexa rede” para efetuar-se a interação, composta de elementos lingüísticos e contextuais.
Neste sentido, de acordo com Ingedore Koch, em “O texto e a construção de sentidos” pretende-se discutir como o processo textual se mobiliza para a sua efetuação nos diferentes parceiros sociais.
Compreende-se que o texto como forma de “manifestação verbal” se utiliza de diversos elementos lingüísticos e estruturais pensando-se no foco da interação.
Para isto, em um primeiro momento, o individuo para a sua construção textual engloba três grandes sistemas de conhecimentos: o lingüístico, o enciclopédico e o interacional.
O conhecimento lingüístico compreende os conhecimentos da língua e de seus aspectos lingüísticos. Os elementos lingüísticos estão na superfície textual e não dependem necessariamente de conhecimentos de mundo. Dependem do material lingüístico, compreendem basicamente os mecanismos de funcionamento da língua (elementos co-textuais).
O conhecimento enciclopédico refere-se a conhecimentos gerais sobre o mundo, saberes anteriores, (contexto sociosubjetivo).
O conhecimento sócio interacional (interacional) relaciona-se as interações por meio da língua. Subdivide-se em quatro tipos de conhecimentos:
- Conhecimento ilocucional: reconhecimento de propósitos, intenção de quem discursa.
- Conhecimento comunicativo: é referente a “normas comunicativas”. Ao se produzir um texto deve-se pensar primeiramente como as informações serão dispostas e também como serão apresentadas ao parceiro do discurso, logo adequações devem ser feitas de acordo com o contexto comunicativo.
- Conhecimento metacomunicativo: “permite ao produtor do texto evitar perturbações previsíveis na comunicação ou sanar conflitos efetivamente ocorridos por meio da introdução no texto”. Permite ao usuário da língua frente a seus interlocutores realizar explicações utilizando de inferências para poder esclarecer ou assegurar o seu discurso.
- Conhecimento superestrutural: “permite reconhecer textos como exemplares de determinado gênero ou tipo”. Refere-se ao conhecimento de gêneros ou tipos que circulam socialmente, além de envolver a adequação desses conforme situações em que se encontram imersos.
Para a produção e para a compreensão de um dado texto, precisa-se da “mobilização de estratégias”. Koch baseada nas concepções de Van Dijk e Kintsch divide essas estratégias de produção textual em estratégias cognitivas, textuais e sociointeracionais.
- Estratégias cognitivas: Para a compreensão e para a produção de textos é necessário que se sejam relacionados os conhecimentos de mundo aos objetivos que pretendem serem alcançados em um processo de busca de significação, de objetivação com tal enunciação. Aos parceiros sociais cabe mobilizar uma gama de conhecimentos para se fazerem entenderam  curso de uma enunciação. Essas estratégias segundo a autora “em sentido restrito, são aquelas que consistem na execução de algum calculo mental”.
- Estratégias sociointeracionais: “Dizem respeito às escolhas textuais que os interlocutores realizam, desempenhando diferentes funções e tendo em vista a produção de determinados sentidos.” Escolhas que se definem de acordo com o perfil de seu interlocutor, de acordo com a situação que se insere que determina certos usos lingüísticos e de expressões faciais que indicam o objetivo do discurso.
- Estratégias textuais: Para a produção textual, o tecido textual deve-se organizar de forma que contemple estratégias que compreendam: organização da informação no texto; estratégias de formulação, estratégias de referenciação e balanceamento.
- Organização da informação no texto: Com base em informações já preditas se organizam a inserção de outras informações no texto, da forma que se interliguem como por meio de uma rede de informações, dados novos retomando informações já inseridas.
- Estratégias de formulação: “São de ordem cognitiva e interacional”. Tem a função de organizar o discurso por meio dos marcadores discursivos que permitem uma melhor organização do texto. Reforçam a argumentação, são comuns a oralidade e a escrita.
- Estratégias de referenciação: Refere-se à retomadas textuais a partir de um primeiro referente, sendo a sua manutenção mantida em foco. Apresenta-se em forma de anáforas e catáforas.
Estratégias de balanceamento: “Relação entre informação textualmente expressa e conhecimentos prévios”. O interlocutor através de pistas textuais pode fazer inferências do discurso do locutor com conhecimentos prévios seus.
O texto como forma discursiva não se reproduz de forma desorganizada ou sem um objetivo, mas imbrica em si estruturas que lhe garantem sustentação, que permitem a seu usuário atingir o propósito comunicativo. No momento da enunciação utilizam-se como instrumentos fundamentais, a coesão e a coerência.
            - A Coesão: Encontra-se fundamentalmente na superfície do texto, se constitui a partir de seus elementos lingüísticos, do interno ao texto (cotexto). “É uma propriedade pela qual se cria e se sinaliza toda espécie de articulação e ligação que dá ao texto uma unidade de sentido que promove a continuidade temática do texto”. Manifesta-se em duas modalidades, segundo a autora: remissão e sequenciação.
            - remissão: é o processo de retomada de referente, realizado tanto por elementos anafóricos quanto catafóricos, garantindo ao texto uma continuidade temática.
            - coesão seqüenciadora: Faz o texto avançar, garantindo a continuidade de sentidos por meio de recursos estruturais e lingüísticos.
            A Coerência: A coerência segundo Koch não se encontra no texto mais se constrói a partir dele em dada situação comunicativa com base em uma série de fatores de ordem semântica, pragmática e interacional.
          O sentido de um texto não está no próprio material lingüístico, mas na junção dos conhecimentos lingüísticos, nas intenções do autor e nos conhecimentos do leitor, ou seja, encontra-se no contexto, na interação que vai direcionar o sentido dos discursos.
            A autora expõe que esses dois elementos não são totalmente distintos, mas “existem zonas de imbricação ente eles”, pois para a construção textual é essencial o uso de elementos coesivos e também da coerência para que a interpretação e a intenção do texto tenham seus sentidos completados.
            Assim, entende-se como o processamento textual se realiza, mobilizando para isso elementos de cunho lingüísticos atrelados com práticas sócio-culturais e conhecimentos anteriores, compreendendo-se, pois, que o sentido de um dado texto não está apenas no concreto, no material lingüístico, mas na sua inter-relação com elementos contextuais, que lhes atribui significado.

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