sábado, 5 de novembro de 2011

Análise comprobatória dos elementos da diegese no livro Frankenstein de Mary Shelley


Por: Vanessa Severino Bardini. Aluna de Graduação de Letras Português Inglês da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP-CP)

O romance  de terror gótico Frankenstein de Mary Shelley escrito entre os anos de 1816 e 1817 e publicado em 1818, reproduz a história de Victor Frankenstein, um jovem e promissor cientista que busca na ciência as respostas para seus questionamentos. Inserida na estética romântica, a obra retrata elementos sobrenaturais, e o mistério envolvendo o ato da “criação”, sendo ambos relacionados a visões cientificas e religiosas.
Embora não sejam feitas menções de modo direto às práticas religiosas, o texto se constitui ao redor de intertextualidade com as obras bíblicas remetendo a questão da criação e consequentemente da queda do homem. Também faz referência à obra de John Milton, “Paradise Lost” que retrata igualmente a temática religiosa.
Como pontos relevantes da obra, além do destaque para a criação da vida, que é um segredo referente à natureza divina, presentifica-se por meio da criatura o problema da crise de identidade remetendo a questões existenciais tais como enunciam Goethe em “Fausto” remetendo a prerrogativa “Ai de mim!” que conduz a questionamentos tais como: “Quem sou eu?” “de onde eu vim?” “há um criador?”.
Outras questões também exploradas pela trama envolvem os sentimentos de preconceito e injustiça que são imputados à criatura que é sobretudo julgada pela sua terrível aparência  e aos sentimentos de inveja que são manifestos por ela na medida em que se vê desamparada por seu criador e também por outros seres humanos.
             

a)      Foco Narrativo:

O romance de terror gótico Frankenstein de Mary Shelley, consiste num primeiro instante em uma narração com foco em 3° pessoa, narrador heterodiegético, Robert Walton, que conta a história de Victor Frankenstein em forma de cartas para a irmã Margareth. Isto pode ser comprovado no seguinte trecho: “I have decided to write it all down, in his words. When I have done that, I will send it to you. I know it will be very strange, Margaret. But I think it will also be very interesting. I will write to you again soon” (p.02).
 Porém grande parte da história é narrada em primeira pessoa pelo próprio personagem central da história, Victor Frankenstein, narrador homodiegético em discurso direto: “I became a good student. From the first day, chemestry was my favorite subject” (p.08) Também há a apresentação da narração em terceira pessoa, quando se concede expressão ao “Monstro”, em um discurso indireto livre baseado nas reminiscências de Frankenstein: “I stayed in my hut. Nobody saw me there. I cleaned it and covered the holes in the walls with wood and stones. Near the hut was a pool of water. I found a cup of to drink from. I had to steal food, but I was safe.”(p.28). Há portanto na história três narrativas encaixadas: Do viajante Robert Walton, de Victor Frankenstein e do Monstro.

b)      Espaço: Compreende dois espaços físicos principais: Geneva (Suíça) e Ingoldstadt (Alemanha).                  
No principio da narrativa, em tempo presente é apresentado por meio da carta entre     Robert Walton e sua irmã Margareth, o ambiente gelado e hostil, próximo ao Pólo Norte: “We have travelled a long way, and we are now in the far north. It has been a difficult and dangerous journey, but we are safe. There is ice all around the ship and it is very cold” (p.01).
Posteriormente, quando Victor Frankenstein rememora fatos de sua infância, em um tempo passado, expõe-se o espaço de Geneva, lugar que cresceu com seus pais e irmãos: “My name is Victor Frankenstein. I come from Geneva, in Switzerland, and my family is one of the most important in that country.” (p.03). Prosseguindo com suas lembranças, Victor conta que quando completou dezessete anos foi enviado para estudar na  Universidade de Ingoldstadt na Alemanha onde aprende sobre química e aguça a sua curiosidade sobre a criação da vida humana: “When I reached the age of seventeen, my parents decided to send me to the University of Ingoldstadt.” (p.06).
Após o fracasso de sua experiência e a decepção por ter criado um monstro, Frankenstein fica doente e é cuidado por seu amigo, Henry Clerval, mas regressa a casa de sua família em Geneva quando descobre que seu irmão mais jovem foi assassinado: “I travelled to Geneva alone, and my journey was very sad and lonely. So many thoughts came into my mind” (p.19). Passados dois meses após a morte de William e de Justine, Victor decide deixar a casa de seu pai para viajar pelas montanhas: “Nearly two months after the death of Justine, I decided to leave the house and travel to the mountains” (p. 23), onde encontra o Monstro e descobre que ele foi o assassino de seu irmão.O monstro ameaça-o e diz que só deixará ele e sua família em paz quando criar uma monstro fêmea como ele. Assim, Victor parte para a Inglaterra com seu amigo Henry para cumprir a sua promessa e encontra nas ilhas de Orkneys lugar sossegado para a concepção do segundo monstro: “I found a small island in the Orkneys. This was a good place to create my terrible monster. The island was a like large rock with a few huts on it. Nothing grew there. It was not pleasant or friendly.” (p.46).
Decidido a não criar outro monstro, resolve voltar para a sua cidade, todavia o monstro assassina seu melhor amigo, Henry, sendo então Victor acusado pela sua morte permanece um tempo na prisão: “I stayed in prison for three months. Then we went to the court for the trial. At the trial, the judge believed my story. I was on the Orkney Islands when Henry’s body was found. This proved that was I not guilty” (p.56).
Novamente regressa para Geneva com seu pai: “We returned to Geneva a week later.” (p.59) e casa-se com Elisabeth partindo em lua de mel a seguir: “We started our journey by water. We planned to stay the night at a hotel, and continue our journey the next day” (p.62). Mas pouco tempo depois regressa a Geneva novamente com a noticia da morte de sua esposa Elizabeth: “I arrived in Geneva. My father and brother Ernest were still alive. I had to tell them about Elizabeth” (p.66). Assim, com a morte de seus entes queridos, Victor Frankenstein sai à procura do monstro em busca de vingança e se encontra com Robert Walton e seu navio nos mares gelados do norte. Entretanto não consegue a sua vingança, pois muito doente morre no navio de Walton: “His eyes closed, and he pressed my hand. Then he became silent. Victor Frankenstein was dead” (p.70). O monstro com o fim de seu criador tendo em vista que não há mais sentido em sua vida pulou no mar e desapareceu nas águas: “With these words, the monster said goodbye to me. Then he jumped off the ship into the cold water, and was lost in the darkness.” (p.71) 

c)      Tempo:
A narrativa abrange o tempo cronológico fictício, com apresentação do “presente” como pode ser comprovado no seguinte trecho: My dear sister Margareth. You probably finished reading my friend’s terrible story now. It is the saddest, strangest and most frightening story that I have ever heard. But I must tell you now what happened next”. (p.70), e “passado” referente as reminiscências de Victor Frankenstein: “for two years I worked hard and did not visit Geneva. I wanted to discover where life came from” (p.08) e do Monstro: “Oh, why am I alive? I cried to myself. I hated the people who created me.”(p.33).

d)      Personagens:

1-      Victor Frankenstein: Personagem principal da narrativa. Jovem e promissor cientista busca na ciência as respostas para seus questionamentos. Interessado em descobrir a origem da vida estuda o corpo humano e apreende “o segredo da vida”. Assim dá origem ao Monstro que lhe causou acontecimentos trágicos. È um personagem que no decorrer da história sofre transformações na medida em que sua criação vai destroçando tudo a sua volta.

2-      O Monstro: Antagonista da história. Um ser de aparência abominável constituído de partes diferentes de corpos humanos. Personagem essencialmente complexo revela-se um ser dúbil, pois se mune de dois sentimentos ambivalentes amor e ódio, sendo que a sua ira se revela com intensidade na medida que revela repugnância a sua condição física, imputando rancor a seu criador que o abandona e sobretudo aos humanos.

3-      Elizabeth Lavenza: Irmã adotiva de Victor. Evidencia-se como uma mulher calma, generosa e bondosa, que ama a natureza, a poesia, e que preza, sobretudo por seus familiares e amigos. Assume o posto de matriarca da família após a morte de Caroline. Ama Victor e se casa com ele, porém na noite de núpcias é assassinada cruelmente pelo monstro que buscava vingança contra seu criador.

4-      Henry Clerval: Melhor amigo de Frankenstein. É descrito como um homem bom e tranqüilo, que gostava muito de ler e se interessava por aventuras e sonhos. É assassinado pelo Monstro quando Victor se recusa a criar uma companheira para ele.

5-      Ernest: Irmão de Victor. Personagem de pouca ênfase na história, sendo somente citado em algumas ocasiões.

6-      William: Irmão mais novo de Victor.  Não possui muito destaque na seqüência narrativa. É morto pelo monstro quando brincava no campo perto de sua casa em Geneva.

7-      . Caroline Frankenstein: Mãe de Victor. Caracteriza-se como um exemplo de mãe e de esposa. Muito generosa e bondosa adota Elizabeth e a educa como sua própria filha. Morre ao contrair escarlatina enquanto cuidava de Elizabeth.

8-      Alphonse Frankenstein: Pai de Victor. Personagem de pouca ênfase na história, pois não são apresentadas suas características claramente.

9-      Justine: Serviçal e babá de William. É acusada de ser a assassina do menino, pois é encontrado em seu bolso o retrato de Caroline Frankenstein que o garoto sempre carregava. Porém, não fora ela a culpada, mas sim o Monstro criado por Victor, que para incriminá-la colocou a foto em seu bolso enquanto dormia. Justine é julgada e considerada culpada morre enforcada. 

10-  Robert Walton: É o narrador da história e também personagem da narrativa. Entretanto tem pouco destaque visto que o foco é na retratação da história de Victor Frankenstein e de sua criação monstruosa.


e)      Curiosidades:

1-     A criatura de Shelley embora nomeada popularmente de Frankenstein, diferencia-se na obra sendo nomeada apenas de monstro. O nome refere-se a seu criador Victor. A criatura não tinha propriamente um nome;
2-     Os parafusos expostos no pescoço do monstro e a referência a raios como condutor da vida são elementos criados pelo cinema para proporcionar mais ênfase à personagem;
3-     Não é dito na obra como Frankenstein fez brotar vida nas partes do corpo costurado;
4-     A pele do Monstro não é descrita como verde, fato que é abordado no cinema, mas amarela como pode ser comprovado no seguinte trecho: “His skin was yellow and dry” (p.10).

f)       Defeitos:
1- falta de um clímax central.
2- Exploração escassa das características das personagens secundárias; (que se deve ao fato da narrativa ser em primeira pessoa).

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