sábado, 3 de dezembro de 2011

Resumo do livro: Romeu e Julieta de William Shakespeare




O livro Romeu e Julieta de William Shakespeare escrito entre as datas de 1591 e 1595 é uma das obras de maior destaque no período Elisabetano. 
Segundo consta, a história baseia-se em fatos reais acontecidos na cidade de Verona (cidade Italiana) entre as famílias Montechcchio (de Verona) e Capuleto (de Cremona). Essa história foi recontada durante muito tempo por escritores, porém só tomou proporções maiores quando foi escrita e encenada por William Shakespeare, pois atribuiu a um tema comum caráter de obra prima mundial.
Escrita em forma de peça teatral, em um período que os teatros tiveram sua ascensão, a obra narra a história de amor trágica de dois jovens pertencentes a famílias rivais, Romeu Montéquio e Julieta Capuleto que contrariam as restrições familiares e políticas para viverem sua paixão. Seu título original é “The Most Excellent and Lamentable Tragedy of Romeo and Juliet.” Divide-se em cinco atos:


 Primeiro Ato: 
A peça inicia-se com uma desavença entre as famílias Montéquio e Capuleto nas ruas da cidade de Verona que é interferida pelo príncipe Éscalo que os ameaça com a morte. 
Julieta, filha única de Capuleto é pedida em casamento por Páris, jovem nobre e parente do príncipe de Verona. 
Capuleto oferece um grande baile de máscaras em homenagem a Páris a todos os membros da família e amigos. 
Romeu, filho de Montéquio juntamente com seu primo Benvólio e amigo Mercúrio, comparecem a festa disfarçados no intuito de que Romeu veja Rosalina, sobrinha de Capuleto, seu amor não correspondido. Entretanto, Romeu acaba perdidamente apaixonado por Julieta no momento que a vê. 


Segundo Ato:
À noite os dois jovens se encontram na varanda do quarto de Julieta onde trocam juras de amor e decidem se casar. Frei Lourenço com o intuito de unir as duas famílias, celebra o casamento secretamente no dia seguinte. 


Terceiro Ato: 
Após o casamento, Romeu é desafiado por Teobaldo, primo de Julieta para um duelo, devido a este ter comparecido ao baile na casa dos Capuletos sem ter sido convidado, caracterizando uma afronta contra a família. Porém, Romeu se recusa a lutar  e seu amigo Mercúrio intervêm iniciando o duelo contra Teobaldo. Mercúrio é mortalmente ferido. Romeu vinga seu amigo e mata Teobaldo. 
O príncipe de Verona, Éscalo expulsa Romeu de Verona atribuindo - lhe a causa dos homicídios. 
Julieta fica inconsolada com os acontecimentos. Seu pai considera que o sofrimento seja imputado ao assassinato de Teobaldo, e propõe que seja realizado o casamento entre ela e o nobre Páris. Julieta se recusa, e Capuleto ameaça deserdá-la. À noite com a ajuda da Ama de Julieta, o jovem casal se encontra e consuma o casamento. Romeu parte para a cidade Mântua, logo após o amanhecer. 


Quarto Ato
Na manhã seguinte, Julieta vai até a capela de Frei Lourenço para solicitar sua ajuda. Este aconselha Julieta a aceitar o casamento proposto por seu pai. O Frei apresenta uma solução aconselhando-lhe que na manhã do casamento deverá Julieta beber uma poção que fará com que ela seja dada como morta. O Frei então, ficaria encarregado de informar a Romeu sobre os acontecimentos. Julieta segue as recomendações e é levada adormecida para o jazigo da família.


Quinto Ato: 
O Frei envia uma mensagem a Romeu que, porém se extravia. Romeu desconsolado com a morte de sua amada compra um frasco de veneno em um boticário e vai até o jazigo dos Capuletos para morrer junto a sua amada. Na entrada do túmulo, Romeu encontra Páris consternado. Ambos enfrentam-se em um duelo, e Romeu assassina Páris. 
Acreditando que Julieta estivesse morta, Romeu bebe o veneno e morre ao lado do corpo de sua amada. Julieta desperta e encontra o corpo de marido estirado. Não vendo mais solução e esperança que a motivem a viver, suicida-se com o punhal de Romeu. 
Com a tragédia, as duas famílias se reconciliam e prometem manter a paz em memória de seus amados filhos.

sábado, 26 de novembro de 2011

Resumo e Resenha Crítica do livro: "A língua de Eulália de Marcos Bagno



BAGNO, Marcos. A língua de Eulália - novela sociolingüística. Editora Contexto. São Paulo. 2004.

RESUMO: A língua de Eulália

Por: Vanessa Severino Bardini. Aluna de Graduação de Letras Português Inglês da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP-CP)

Título: A chegada

A narrativa em seu primeiro capítulo apresenta-nos a chegada de três estudantes universitárias: Vera, Sílvia e Emília à casa de Irene, uma lingüista renomada e professora universitária aposentada.
As três estudantes assim como Irene são professoras, do curso primário de um mesmo colégio em São Paulo, porém graduandas em disciplinas diferentes, sendo Vera estudante de letras, Sílvia de psicologia e Emília de pedagogia.
Irene, tia de Vera, as convidara para que passassem as férias do mês de julho em Atibaia lugar campestre onde reside.
Irene apesar de ter se aposentado continua pesquisando e ministrando aulas, o que causa certa curiosidade por parte de Silvia e Emília.
Vera lhes explica o motivo de tanto interesse, Eulália, que fora empregada de Irene, que era analfabeta.

Subtítulo: Quem ri do que?

As estudantes reunidas com a anfitriã, Irene após o almoço, criticam o modo de Eulália falar, desprezando a sabedoria que ela possui.
Irene então as questiona com relação ao preconceito, demonstrando que as variações se dão devido a circunstancias do próprio uso da língua que varia conforme as diferenças de gênero, de classe social, de etnia, entre outros.

Título: Que língua é essa - mito da realidade

A lingüista expõe o mito da língua única que percorre todo o Brasil, como um fato que não corresponde a realidade, pois no Brasil são falados mais de duzentos tipos de dialetos diversos, uma língua varia.

Subtítulo: Toda língua varia.

Irene faz uma comparação entre os usos do português no Brasil e em Portugal, no nordeste e no sul do Brasil, da variedade de usos de um homem para uma mulher, apontando que as diversas variedades equivalem a uma língua e que cada pessoa possui uma língua própria, individual.
Cita como exemplo a fábula do porco-espinho enfatizando que a partir da linguagem há-se a sobrevivência e a evolução dos indivíduos.

Título - Toda a língua muda - comparações entre os usos da língua portuguesa de acordo com os tempos.

Irene continua a discorrer sobre o tema apontando que além da variação geográfica, a língua muda no decorrer dos tempos e que seu uso se dá de varias formas no espaço.
Aborda também que não há uma única variedade de português, mas uma variedade de dialetos dentro de uma mesma língua, que são falados diversificamente de região para região, representando um conjunto de pessoas e também uma época.
A professora fala da norma padrão “um modelo ideal de língua”, que é usada por jornalistas, escritores e pessoas cultas, discutindo a importância de ser aprendida na escola. Discorre que mesmo a norma padrão sendo tão prestigiada, não deve ser utilizada como instrumento de discriminação e que se o mesmo investimento fosse aplicado às outras variedades, estas certamente se tornariam tão importantes quanto a norma padrão.
Irene para explicar melhor envolve o exemplo da língua hebraica, considerada morta, que foi investida pelos Judeus, tendo hoje uma enorme importância política e econômica.

Título: História da Norma Padrão

Irene dando seguimento a seus apontamentos, fala que ao estabelecer uma norma em uma língua as outras variedades passam a ser consideradas impróprias. Sendo então a norma padrão a representante legal da língua.
A lingüista discorre que todas as variedades possuem recursos para desempenhar a função de comunicação e que algumas línguas servem de base para a formação da linguagem padrão.
Dá o exemplo do Italiano que se formou na região da Toscana, devido a importância da região, economicamente e pelo fato de que nesta linguagem foram escritas muitas obras primas da literatura mundial, destacando entre os principais autores: Michelangelo, Da Vinci e Dante.
Voltando-se ao Brasil, Irene fala do processo de colonização que se iniciou do norte para o sul, citando o preconceito que há com as variedades nordestinas e do falar caipira (r retroflexo).

Título: Que é o português Não-Padrão.

Emília tece um comentário tendo como ponto a língua, comparando-a com um balaio, onde existem inúmeras variedades e que só algumas comporão a norma padrão.
Irene a partir desse comentário aponta que a unidade linguistica é um mito, pois a realidade em que vivemos é complexa, não se fala apenas uma variedade.
A lingüista explica o que é o português padrão e o português não padrão.

Subtítulo: Quem fala o PNP?

Irene aponta as diferenças entre o PP, variedade falada pelas classes sociais privilegiadas, que são minoria da população e o PNP, grande maioria dos falantes, classes sociais marginalizadas.
Ela fala da discriminação da variedade PNP, que é um grave problema não apenas não apenas social mas também no sistema educacional, que tratam essa a variedade PNP, como deficiente, o que resulta na enorme porcentagem de fracasso escolar, pois o aluno se sente capaz de aprender.
Irene conclui que o português padrão deveria ser ensinado de modo a integrar o aluno a sociedade, sendo que através do seu domínio permita ao falante lutar em igualdade com os outros cidadãos das classes privilegiadas.

Título: O livro de Irene.

As estudantes destacam o falar de Eulália, como PNP. Irene lhes conta que Eulália foi alfabetizada quando tinha mais de quarenta anos, ressaltando que embora ela tenha sido alfabetizada no português padrão continua empregando o não padrão, pois é a língua materna dela.
Irene aponta que a partir do conhecimento do PNP tem-se a identificação da dificuldade que o aluno tem em aprender a norma padrão.
Ela explicita que é possível escrever uma gramática do PNP, plano que está colocando em prática por meio de suas pesquisas, concluindo   que através deste estudo, que o português não padrão deixe de ser visto como uma língua “errada”, passando para o plano de língua organizada, limitando-se nos estudos as diferenças fonéticas que são mais estigmatizadas.

Subtítulo: O erro e o outro.

Dando segmento, Irene enfatiza que a rejeição pela variedade de PNP continua sendo perpassada pelos meios sociais, sem que essa noção de “erro” seja explicada, pesquisada e sem definir o porquê da ocorrência e da permanência desta variedade que é tida como errada.
Sílvia dando um exemplo de seu irmão quanto ao uso do boné, exemplifica o conceito de certo ou errado que varia de individuo para individuo.
Irene retoma indicando que o fenômeno do certo e do errado é um fenômeno antigo, citando o exemplo da língua grega versus bárbara.

Subtítulo: Erro comum ou acerto comum?

As orientações de Irene se seguem apontando para os fenômenos que ocorrem de norte a sul, tidos como “erros comuns”.
Irene a partir desses “erros comuns” pretende demonstrar que os gramáticos consideram como errado, tem na verdade uma explicação, e que o erro em questão é definido por questões individuais, como pronuncias não registradas em nenhuma outra variedade no Brasil.
Irene expõe também algumas estratégias para provar que as características do PNP não são erros, citando que é necessário comparar outras línguas com o PNP e observar se existem fenômenos semelhantes e buscar na historia explicação para a caracterização do PNP.
Conclui destacando que a língua portuguesa está em constante transformação, assim como o latim que originou diversas línguas.

Subtítulo: Características do PNP

Irene apresenta as estudante um quadro comparativo entre o PP e o PNP. Após a apresentação dos quadros, atenta-se para as características entre as duas variedades, destacando-se para a naturalidade do PNP e para a artificialidade do PP.

Subtítulo: PP e PNP- mais semelhanças que diferenças.

Irene explica que existem mais semelhanças que diferenças entre as variedades de português no Brasil, apontando que apesar das diferenças os falantes de variedades diferentes conseguem se comunicar com eficiência.
Também enfatiza que as desigualdades sociais existentes no Brasil, acentuam a estigmatização daquilo que foge da norma padrão, pois esta faz força social e política contra o PNP, assim como na etimologia da palavra vinda do latim é a língua do patrão , daquele que governa.

Subtítulo: Do latim vulgar ao português não padrão.

As estudantes empolgadas com tudo o que Irene falava sobre o PNP, propõem a Irene a aplicação de um curso intensivo.
Irene percebendo o interesse das estudantes, aceita a proposta, introduzindo uma pequena síntese de fatos históricos do latim, língua românica que se popularizou através do latim vulgar, cujas algumas de  suas características são encontradas no PNP.

Título: Um probrema sem a menor graça - rotacização do l nos encontros consonantais.

 O curso intensivo se inicia no dia seguinte ao da chegada, na “escolinha”, cômodo utilizado por Irene para desenvolver aulas de alfabetização.
Irene inicia a aula apontando que sempre temos algo de interessante para aprendermos com as pessoas.
Vera a partir desse comentário, insinua preconceito ao dizer: o que se poderia aprender com uma empregada analfabeta.
Irene lhe fala que não há somente um tipo de conhecimento, mas vários.
Depois dessa conversa, se dá inicio a aula, sendo o assunto abordado o deboche contra os falantes que fogem das regras do PP, que fez e faz parte do ensino de língua portuguesa.
Para isso utiliza de exemplos para tentar explicar o porquê da ocorrência dos “erros”, verificando tendências como a transformação do l em r nos encontros consonantais o chamado rotacismo.

Título: Uma língua enxuta - eliminação das marcas de plural redundantes.

Irene para a segunda aula, leva um radio e uma fita cassete, onde há a gravação da musica de Nara Leão “Cuitelinho”.
Por meio da musica, Irene tenta demonstrar as regras que constituem o PNP, o falar caipira e a questão dos usos dos plurais, que são redundantes no PP, “um gasto excessivo e econômico no PNP”.

Subtítulo: Quem mais fala assim?

Irene explica que as regras do plural do PNP não são exclusivas apenas da língua portuguesa, mas são presentes em línguas estrangeiras como no inglês, cuja as marcas do plural são feitas somente em uma palavra.

Subtítulo: PNP: uma língua em dia com a moda.

Irene enfatiza que o uso do PNP por ser uma linguagem mais ágil, esta sendo mais difundida nos meios de comunicação. Atentando-se também ao conhecimento das regras que permitem que o PNP não seja mais considerado como um erro, mas como uma variedade que possui uma lógica.

Título: Liberdade, Fraternidade, Igualdade - transformação de lh em i.

Irene prossegue com o curso explicando a troca ou a retirada do lh presente no PNP, onde o encontro consonantal não existe. Faz essa explicação comparando o português não padrão com outras línguas, como o francês e o espanhol, onde fato semelhante também ocorre, um fenômeno denominado Yeísmo ( no espanhol) através de um quadro onde nota-se semelhanças bem próximas entre as pronuncias.

Subtítulo: Primeira explicação: dentro da língua.

Irene para explicar melhor a ocorrência deste fenômeno o faz através de duas explicações, sendo a primeira abrangendo o desaparecimento do lh a partir da explicação do lingüista alemão “Heenrich Lausberg” , que parte da produção dos sons que são produzidos no mesmo local, no palato, apontando a comodidade de se pronunciar o i do que o lh, ocorrendo o fenômeno de assimilação.
Irene dá exemplos de transformações de uma palavra do latim ao português, atentando-se para o processo de mudança a qual a língua sempre se encontra, correspondendo o PNP com a realidade linguistica do momento.

Subtítulo: Segunda explicação: fora da língua.

Como segunda explicação Irene busca no exemplo da língua Francesa,atentando para a  vitória política do i sobre o lh a partir da revolução francesa que põe no poder a classe social burguesa, que resultou na mudança social e linguistica.

Subtítulo: educar é diferente de ensinar.

Irene diferencia duas palavras de origem latina: ensinar e educar, além de explicitar o mito da unidade linguistica que no ambiente escolar perpetua a ideologia de mostrar que o PNP é uma língua deficiente, e que o PP é uma forma linguistica perfeita.
Levanta também a questão que não basta apenas ensinar o aluno, mas o dever é educa-lo para que possa saber como lhe dar com as diferenças lingüísticas e sociais e saber vencê-las.

Subtítulo: Uma língua rica.

A lingüista fala da riquíssima produção de literatura popular em PNP, expressado que se fosse mais explorado esse determinado tipo de literatura o preconceito linguistica seria minimizado.
As estudantes juntamente com Irene fazem uma análise da musica “cuitelinho”, comparando-a com versos trovadorescos antigos devido a simplicidade da canção.

Título: Verbo para que te quero.

Emilia inicia a aula dizendo que Eulália não respeita as conjugações verbais quando fala. Irene para lhe explicar melhor o fenômeno, parte de suas observações como lingüista indicando que há uma tendência de reduzir as formas do verbo conjugado em todo o pais, comparando a conjugação do verbo amar em PNP e PP.

Subtítulo: De novo o enxugamento.

A lingüista rememora que o PNP evita redundâncias, comparando a conjugação verbal com o uso dos plurais, onde a marca indicadora de plural fica limitado a primeira palavra, no caso dos verbos a indicação fica explicita no pronome sujeito.
Emilia levanta uma duvida quanto a explicação de Irene, o porquê de haver uma forma de conjugação diferente para o pronome pessoal eu.
Irene busca na psicologia, juntamente com Silvia, refletindo a necessidade de que o ser humano tem em ser único, distinto do coletivo.

Subtítulo: O clássico e o coloquial.

Irene fala da surpresa que o esquema do PNP proporciona, com a sua redução de seis formas para duas formas de conjugação verbal.
A lingüista expõe um quadro de conjugação latina e um em português e através destes expõe que a língua portuguesa (brasileira) não corresponde a realidade, mas ao português clássico literário e que a estrutura do português PNP é realizada de forma bem mais simplificada porém efetiva.

Subtítulo: Passado, presente  futuro.

As estudantes questionam o uso das formas conjugadas tu e vós, que não são mais usadas na língua portuguesa atual.
Irene também questiona a forma como é ensinada as conjugações verbais nas escolas, fazendo com que o aluno decore sem refletir sobre a importância daquilo que lhe é ensinado.
Vera, Silvia e Emilia atentam-se para o uso do pronome de tratamento você e do uso do presente do futuro.
A lingüista lhes explica que o pronome você assume a posição de uma 2° pessoa do discurso - pronome do caso reto.
Partindo disso, Irene fala da necessidade de se reverem conceitos sobre as definições verbais.

Subtítulo: Quem não sabe português?

Irene fala do ensino de gramática como algo distante e complicado, devido a manutenção do ensino tradicional no ambiente escolar.
Emília conclui a aula dizendo que para mudar esse conceito de língua enrijecida é necessário modificar a maneira de encarar o PNP tratando-o não mais com preconceitos, mas sim como um novo uso autêntico da língua.

Título: E agora com vocês a assimilação - transformação nd em n e de mb em m.

No dia seguinte, domingo, toda saem para um passeio na região de Atibaia.
Eulália vai para a casa de Ângelo seu filho. As estudantes e Irene caminham em uma calçada que contorna um rio.
Emília enquanto caminha fala que sua mãe lhe deu o nome em homenagem ao escritor Monteiro Lobato.
Logo em seguida pergunta a Irene o porquê da ocorrência na fala popular de se usas a terminação no ao invés de se utilizar o gerúndio.
Irene explica que ocorre um fenômeno chamado assimilação, sons parecidos que se tornam semelhantes, um processo que produz uma continua mudança na língua.
Após essa explicação, todas se dirigem para um restaurante de comida italiana.

Titulo: Sodade, meu bem, sodade – redução do ditongo.

No restaurante enquanto almoçam, Irene fala de um ditado que criara “A língua voa, a mão arrasta”, explorando o uso mais eficiente da fala que  está em constante transformação em comparação com a escrita, que permanece inalterada. Compara esse processo com a fábula da lebre e da tartaruga, porém com uma inversão: a lebre que representa a linguagem está muito a frente da tartaruga representante da linguagem escrita.

Subtítulo: O ditongo que já era.

Irene fala da insistência dos livros didáticos em insistir que palavras como roupa são ditongos, fenômeno que não acontecem em ambas as variedade PNP e PP, que pronunciam apenas a primeira vogal.
Cita um exemplo da gramática histórica, da troca do ditongo au por ou, o chamado processo de assimilação.

Subtítulo: Quem fez papel de bobo?

Irene cita que a língua é mais ligada a oralidade do que a ortografia. Fala também que o PNP respeita a transformação do ditongo au em o mesmo quando em PP as palavras se apresentam com o ditongo, obedece, pois a regra natural da língua.

Subtítulo: No meio do caminho tinha o português.

A lingüista fala de uma característica comum a todas as línguas a diferença entre linguagem e escrita, abordando o fato de que a linguagem oral é em sua extensão riquíssima.

Subtítulo: para que serve a escrita?

Irene prossegue dizendo da importância de se saber que a escrita apesar de ser um registro permanente de conhecimentos não deve ser utilizada como instrumento de tortura.

Título: Beijo rima com desejo - redução do ditongo EI em E.

Na segunda feira as aulas recomeçam a noite na escolinha. Irene segue falando dos casos de mudanças nos ditongos, agora atentando-se para o processo de monontogação que ocorre nas palavras que possuem o ditongo EI que passaram na linguagem falada a ser pronunciadas E, a pronuncia de dois sons se transformando em um.
Para demonstrar o processo, Irene lhes entrega um quadro para que as estudantes observassem melhor a ocorrência do processo.

Subtítulo: Semivogal um som no meio do caminho.

Irene após a apresentação e discussão do quadro de palavras, vai até a lousa e escreve alguns símbolos e depois os explica, enfatizando que os ditongos embora formados de uma vogal mais uma semivogal podem ser pronunciados de uma maneira diferente apresentando apenas um som.
A lingüista explica as estudantes a diferença entre vogais e consoantes, enfocando que as vogais podem ser pronunciadas sozinhas diferentemente das consoantes que precisam das vogais para serem pronunciadas.
Irene também explica a função das semivogais e das semiconsoantes, citando exemplos na gramática histórica das transformações de semiconsoantes que se tornaram consoantes, nascendo então os sons de consoantes com J e V que não existiam na língua latina clássica.

Subtítulo: A verdade sobre os ditongos.

Irene fala sobre como os livros didáticos tentam simplificar o ditongo, demonstrando realmente que não é o encontro de duas vogais em uma mesma silaba, mas sim encontro de duas vogais diferentes, uma vogal + uma semivogal.

Subtítulo: A assimilação volta a atacar.

A lingüista explica o processo de assimilação que faz a união de dois sons semelhantes que cuja a produção ocorre em uma região bucal comum.

Subtítulo: Da fala para a escrita.

Vera comenta que o processo de assimilação é um fenômeno vivo na língua falada, que causa dúvidas quanto a escrita, até mesmo para pessoas alfabetizadas.

Subtítulo: A mesma conclusão.

Irene conclui a aula explicando a importância da fonética como ciência, que esclarece uma grande parcela de fenômenos da língua.

Título: Música maestro! Redução do E e O átonos pretônicos.

Eulália faz um convite às estudantes no dia seguinte, para um jantar na casa de Ângelo. Assim as aulas se iniciam mais cedo às quatro horas da tarde.
Irene no inicio da aula faz perguntas as estudantes referentes onde nasceram e moraram. A lingüista partindo disso, conta que nasceu em São Paulo, porém viveu até os dezoito anos no Rio de Janeiro.
Fala então da influência quanto a pronuncia das palavras e de vocabulário que conservava resultavam da convivência social, que formou seus hábitos linguisticos.
Assim inicia a aula com a questão do E e do O átonos pretônicos, que estão presentes no PNP e  PP.
Irene também explica o que são silabas átonas e pretônicas, enfatizando que na língua portuguesa as vogais E e O quando postônicas são pronunciadas de forma mais fraca com outro som, de i e de u.

Subtítulo: O caso das pretônicas.

Irene entrega um quadro as estudantes e orienta-as para que façam a leitura das palavras pronunciando o e como i  e o o como u.
Após as estudantes pronunciarem as palavras, Irene explica o processo que ocorre com enfoque no quadro, destacando o exemplo das palavras formiga , coruja e bebida que quando pronunciadas tornam-se furmiga, curuja e bibida.
O processo segundo a lingüista é de harmonização vocálica onde o e e o  tornam-se u e i para formar harmonia na palavra, proporcionando variedade sonora.
Irene fala do apego a linguagem escrita que não permite que sejam compreendidos diversos pontos da linguagem oral.

Subtítulo: Bolacha com mostarda.

Irene fala que existem palavras que possuem o átono pretônico sem apresentarem o I e o O , palavras que tem o b e o m, consoantes bilabiais que ao serem pronunciadas fazem com que o som da  vogal pretônica torna-se u , citando o exemplo das palavras: moeda- mueda, bolacha – bulacha.

Subtítulo: Uma hipótese para São Paulo.

As estudantes a partir do que for ensinado por Irene, levantam hipóteses percebendo que essas variações não acontecem da mesma forma de lugar para lugar, partindo da observação do falar paulistano a pronúncia de palavras paranaenses.
Irene para explicar esse tipo de ocorrência fala sobre uma hipótese que criara para essa diversidade, indicando que essa diferença de pronuncia se deu através do processo de colonização que mais especificamente em São Paulo foi realizada pelos italianos, que em sua língua não apresenta essas reduções de E em I , O em U, pronunciando as palavras como elas são escritas.

Subtítulo: Falar do jeito que se escreve não significa falar mais certo.

A lingüista fala da tendência na escola de obrigar o aluno a pronunciar a língua como se escreve tendência errônea e artificial.
Irene fala da necessidade de se promover o uso dos modos da fala sem estigmatizar as variações da língua, porém já direcionada ao campo da escrita prescreve a necessidade de explicar ao aluno que ter um bom domínio da linguagem escrita permite uma melhor compreensão para aqueles que lêem a mensagem dando ênfase a necessidade de se seguir uma única regra ortográfica.
Após o termino da aula todas se dirigem a casa de Ângelo.

Título: Que coisa mais esdrúxula – contração das proparoxítonas em paroxítonas.

Irene continuando o curso intensivo, faz a apresentação de um novo assunto as estudantes , a contração de palavras proparoxítonas em paroxítonas. Tece comentários sobre as transformações das palavras em PNP, que necessitaram se adaptar para caberem no ritmo dinâmico da língua.

Subtítulo: O que nos diz a história da língua.

A lingüista explica que o fenômeno de contração das palavras não é algo exclusivo do PNP e seu ritmo dinâmico, mas é um fenômeno que se apresenta na historia de formação das línguas latinas.
Para exemplificar o tema, Irene apresenta um quadro onde faz apontamentos, que além da contração de palavras, hão-se também transformações no significado.

Subtítulo: Vocabulário erudito e vocabulário popular.

Irene fala dos usos das palavras proparoxítonas, classificando-as como sofisticadas e de uso restrito.
Utiliza a epopéia de Luís Vaz de  Camões que apresenta 267 palavras proparoxítonas contra 8325 paroxítonas para exemplificar que mesmo em textos de literatura clássica são palavras que não são comumente utilizadas.

Subtítulo: Mais duas palavrinhas.

Irene conclui a temática apontando que as palavras proparoxítonas são um corpo entranho no PP, que não correspondem ao ritmo natural da língua, que é definido pelo ritmo paroxítono, apresentando a definição das palavras proparoxítonas como palavras esdrúxulas.

Título: Quem era o Home que eu vi onte na garage? Desnasalização das vogais postônicas.

Antes do inicio da aula, enquanto tomam o café da manhã, Vera pergunta a Irene porque é comum as pessoas não pronunciarem os Ms finais das palavras.
Devido a pergunta de Vera, Irene põe-se a rabiscar no papel ideias que surgiram com as duvidas de Vera, pois era um assunto que ela não havia incluído na sua pesquisa.
Assim, a partir da duvida apresentada pela sobrinha, Irene inicia a aula com o assunto da desnasalização das vogais postônicas na língua portuguesa.
Para explicar o processo, Irene se utiliza das palavras em latim: abdômen, lúmen, volumen entre outras.
A partir da apresentação das palavras, Irene explica o desaparecimento do N final, a tendência na língua portuguesa de se eliminar a nasalidade das vogais postônicas.
Explicita que algumas palavras possuem uma dupla grafia como no exemplo abdômen que pode ser usada de formas.
A dupla grafia, Irene explica que se deve ao PP conservar o M das palavras e do PNP de eliminá-lo. Irene demonstra também  o fenômeno abrangendo as palavras terminadas em ÃO tônico, citando como exemplo os nomes Cristóvão que no PNP se pronuncia Cristovo e de verbos que terminam em AM como a conjugação verbal “eles cantaram” torna-se “eles cântaro”.
Conclui então que o PNP é mais obediente às regras de mudanças lingüísticas, pois generalizou a regra a todas as palavras.

Título: Quem não se alembra de Camões – arcaísmos no português do Brasil.

Irene apresenta um outro quadro de palavras as estudantes, agora de verbos e questiona as estudantes quanto aos usos.
Após a discussão, Irene apresenta um trecho do poema de Camões , que se utiliza  das palavras do quadro de verbos.
A lingüista expõe seu objetivo, que é demonstrar o que se é  considerado errado na fala e na escrita  do PNP são arcaísmos da língua.

Subtítulo: O passado alumiando o presente.

Irene para explicar o porquê da ocorrência de arcaísmos na língua portuguesa atual retorna a historia da língua portuguesa nos tempos iniciais do Brasil. Aponta que a língua portuguesa no inicio da colonização se equipara atualmente ao PNP, que conservara alguns aspectos que desapareceram da língua portuguesa atual.
Fala também da importância do Modernismo e de autores como Manuel Bandeira para que alguns traços linguisticos do português do Brasil passassem a ser aceitos como linguagem padrão.

Subtítulo: Quem descobriu o que?

As estudantes questionam Irene quanto ao uso de verbos iniciados com A. Irene explica que são também arcaísmos linguisticos, onde seu uso abundante pode se encontrado na epopéia Os Lusíadas de Camões que fora escrita 72 anos após a colonização do Brasil. 
Irene juntamente com as estudantes questiona o fato de o Brasil ter sido descoberto, apontando que fora um grande plano para explorar terras já conhecidas e para o fato de anteriormente haverem os indígenas habitando em terras brasileiras.

Subtítulo: A história dos verbos com A.

Irene retorna a dúvida inicial das estudantes explicando o porquê que no PNP se apresentam verbos iniciados por A, partindo da origem que advêm da preposição latina AD que significa: junto de, perto de.
A lingüista explica que além desses significados a preposição AD era usada como prefixo para a formação de novos verbos, que com o tempo se modificou devido ao processo de assimilação perdeu o D.
Irene conclui a explicação falando que com o passar do tempo os gramáticos decidiram eliminar os verbos iniciados com o A, pois não correspondem mais a língua latina. Porém, Irene fala que esse uso não fora eliminado do PNP, pois o acesso a mudança empregado pelos gramáticos era restrito.

Subtítulo: Quanto mais longe mais arcaico.

Irene prossegue dizendo que a distância geográfica entre paises e regiões delimita o aspecto arcaico de uma língua, apontando que não há a mesma transformação linguistica em regiões distantes.

Subtítulo: Português do Brasil: uma língua conservadora.

Irene apresenta a Vera, Emília e Sílvia arcaísmos da língua português, formas que se aproximam do latim como escuitar, que se assemelham ao espanhol como entonce que são consideradas formas errôneas pelos portugueses.
A linguistica demonstra transformações das palavras em latim ascultare e multo que geraram em PNP escuitar e muito, além dos usos de preposição regendo verbos de movimento, do verbo chamar e do gerúndio que seu uso em Portugal é inexistente.
Irene conclui que deve se atentar ao fato de as formas do PNP não são erros, mas heranças antigas da língua.

Título: Aceita-se roupas novas: função da partícula SE como verdadeiro sujeito da oração.

No dia seguinte as estudantes acordam cedo e encontram um envelope deixado por Irene contendo um bilhete, avisando que sairia com Eulália para fazer compras.
As estudantes se dirigem a cozinha para tomar café e encontram sob os pires, três bilhetes, Vera lê o seu que dizia “Vendem-se casas” logo em seguida, Sílvia lê o seu “ Se quem tem autoridade para reprovar o aluno é o professor, qual o sujeito da seguinte frase: Na escola reprovam-se muitos alunos por falarem uma variedade não padrão de português?”
Emilia encerra lendo o seu: “ Você já ouviu falar das galinhas suicidas? Então qual é o sujeito da seguinte oração: Nesta granja abatem-se mil galinhas diariamente.”
Após lerem os bilhetes as estudantes ficam um pouco confusas sobre os dizeres dos bilhetes.
Acabam encontrando outro bilhete sob a toalha que cobre a cesta de pães. No bilhete, Irene pede para que as estudantes reflitam sobre as questões.
Assim como Irene lhes pedira, após o café, as estudantes refletem sobre os bilhetes. Emília vai até o escritório de Irene onde passa a pesquisar.

Subtítulo: Quem é mesmo esse sujeito?

A noite na escolinha a aula tem inicio. Irene segue falando das questões dos bilhetes que entregara as estudantes, explicando que o tema da aula seria desenvolvido ao entorno do conteúdo dos bilhetes, cuja temática era a função do SE como sujeito de frases.
A lingüista aponta que a função do se no PP e no PNP são diversas, partindo das frases “vendem-se casas” e “vende-se casas” para explicar.
Irene fala da insistência de os gramáticos em considerar a forma verbal “vendem-se casas” como correta e a segunda forma “vende-se casas” como incorreta.
Ela demonstra através de uma frase simples “Nessa padaria se come uns docinhos ótimos” o que fundamenta a teoria tradicional de gramática, explicitando que de acordo com a gramática a construção frasal estaria incorreta, pois o verbo deve concordar com o sujeito.
Emília a partir dos comentários de Irene passa a expor o que pesquisara. Ela aponta que cada frase tem uma organização.
Expõe que na língua portuguesa, assim como em outras línguas, seguem a ordem canônica: Sujeito+verbo+objeto, mas que na frase considerada como incoerente há uma inversão do sujeito.
Emilia aponta que a frase seria analisada pela maioria dos brasileiros como sendo o sujeito o SE, ou “sujeitíssimo”, o que é um grande problema para os gramáticos.
Fala disso como grande problema, pois do latim se origina o português e não era admitido o uso do SE como sujeito, mas apenas objeto.

Subtítulo: O estranho caso das galinhas suicidas.

Emília continua explicando, agora voltando-se  para o campo da semântica.
Demonstra que devido à posição de uma palavra em uma frase, esta pode se tornar ambígua.
Utiliza a frase escrita por Irene em seu bilhete para explicar as ambigüidades.

Subtítulo: Não me venha falar em equivalências.

Emília prossegue explicando que a frase segundo a gramática tradicional, apresenta-se na voz passiva sintética, onde o sujeito da oração verbal é o paciente.
A estudante fala da idealização da língua que entre em choque com a realidade.
Explica esse choque por meio de sua frase, enfatizando que a ação verbal de “abater-se” não se pode ser considerada uma forma passiva, pois há um sujeito implícito que pratica a ação marcado pelo SE.
Emília  cita um filólogo “Manuel Said Ali”, expondo que  pensamentos diferentes são expressos pela voz passiva, utilizando-se de duas frases para exemplificar: “Aluga-se esta casa” e “esta casa é alugada”.

Subtítulo: Despindo múmias e cantando feijões.

Emilia explica que o pronome SE em frases como a de seu exemplo não é um pronome apassivador, mas o sujeito da oração.
Fala que em frases como a do exemplo não estão na voz passiva, mas na voz ativa, pois enfatizam a ação praticada.
Irene intervém dizendo que o mais coerente seria reconhecer a mesma função do SE como em frases que não possuem objeto.
Exemplifica com a frase “No Brasil, trabalha-se muito e ganha-se pouco”, que a gramática tradicional classificaria como índice de indeterminação do sujeito.
A lingüista fala que a classificação deveria mudar, sugerindo que deveria ser um pronome pessoal usado para indicar sujeito indeterminado.
Assim, encerra-se a aula, com Vera, Sílvia e Irene muito surpresas pelo fato de Emília saber muito de analise sintática, algo que ela não dominava muito.

Título: A bruxa está solta! Fenômeno decorrentes da analogia.
Subtítulo: Desvendando o mistério.

Vera e Silvia desconfiadas com a repentina demonstração de conhecimento por parte de Emília, lhe perguntam o que é uma explicação pragmática.
Assim, é descoberto que Emília decorara o capítulo do livro de Irene que abordava os estudos do pronome SE.
Irene não se diz surpreendida pela situação, pois observara que Emília citara trechos de seu livro, mas acabou deixando-a explicar. A partir da pergunta de Vera e Silvia à Emília, Irene explica as dúvidas quanto aos problemas semânticos e a explicação pragmática.
Irene faz apontamentos quanto aos problemas semânticos a partir da frase “Vendem-se casas”, explicando que a ação verbal não pode ser praticada pelo sujeito casas.
Na explicação pragmática, a lingüista explica que é a relação do falante com que diz. Utiliza-se da frase de Emília para expor que não está na voz passiva, mas é uma forma de enfatizar o ato praticado pelo sujeito “Sujeitíssimo” se.

Subtítulo: O nome da bruxa.

À noite na escolinha, Irene apresenta um outro fenômeno semelhante à assimilação: a analogia, "mudança lingüística causada pela interferência de uma forma já existente"

Subtítulo: O roubo das vogais fechadas.

Após a explicação, Irene dá introdução ao assunto, apresentando um novo quadro de palavras as estudantes que demonstrava a alternância de sons das vogais fechadas para os substantivos e abertas aos verbos.
A lingüista explica que antigamente os substantivos usavam um acento chamado “diferencial” para diferenciar na escrita o som das vogais, mas que com a reforma ortográfica de 1971 o acento desapareceu.
Irene a partir disso, explica o fenômeno da analogia, que visa eliminar as exceções da língua, contratando com os fenômenos da acentuação, citando o exemplo do verbo espelhar que segundo as regras gramaticais antigas a vogal tônica seria aberta, mas que com a analogia passam a ser conjugado a tônica fechada.

Subtítulo: O excesso de correção.

Irene cita outros exemplos da analogia, verbos que admitem dois particípios passados, o verbo aceitar, ganhar e salvar.
Fala da pressão da escola quanto a admissão do particípio irregular, explicitando que as duas formas são admitidas pela gramática tradicional.
A lingüista cita o caso de hipercorreção processo advindo da analogia, que faz com que os falantes façam aplicação da regra em verbos que no português clássico só possuem o particípio regular, citando o exemplo do particípio pego, que nasceu da hipercorreção da analogia.
Irene fala que no PNP faz surgir formas regulares aos verbos cita os exemplos abrir- abrido, escrever-escrivido, ponhar- ponhado.
Já na variedade de PP, a lingüista aponta outra inversão, tenta transformar tudo o que é exceção em regra.
Cita o caso do verbo frigir, que por meio da analogia gerou o verbo fritar, forma regular, pois o verbo frigir ficara estranho no PP.

Título: A fôrma a norma e o funil – mudança, variação e  problemas no ensino da língua.

Subtítulo: O perigo de um novo mito.

Na manha do dia seguinte, reunidas à mesa de café, todas se mostram bem dispostas e alegres, menos Sílvia que se encontra silenciosa.
Vera e Emília justificam o motivo do silencio como sendo saudades do namorado.
Sílvia desmente e expõe que estava pensativa devido a uma dúvida que possuía quanto as variedades de PP e de PNP, de estas serem um mito de duas línguas únicas.
Irene as surpreende, respondendo que as variedades não existem.
Após o termino do café todas seguem para a escolinha para que Irene explicasse a dúvida das estudantes.

Subtítulo: Um só padrão, mas inúmeras variedades.

Irene inicia a aula explicando que não existem apenas as variedades PP e PNP, mas muitas outras. Aponta que para organizar as variedades da língua é necessário, pois, definir normas para constituir a norma padrão, porque ela é a representante legal da língua. A partir disso se dá à definição de norma padrão e norma não padrão as categorias lingüísticas.
A lingüista fala da não existência de um modelo padrão que é obedecido rigidamente, mas há um modelo  de língua que se transforma a todo tempo, apontando que a norma padrão é um ideal de língua, uma abstração.
As estudantes tecem comparações sobre a língua padrão ser um molde para fazer o vestido que é a língua de uso real.

Subtítulo: Quem é falante culto.

Irene fala da existência de uma norma ideal que é o padrão, modelo inatingível e da linguagem social, de uso real, contendo múltiplas variedades.
Aponta que ambas as variedades não se encontram isoladas e não estão prontas.
A lingüista explica que para se definir uma variedade e o falante, se é utilizado o critério do nível de escolaridade, assim definindo as variedades mais cultas e  menos cultas.
Ela também define o falante culto segundo o critério de pesquisadores, como o individuo que tem curso superior completo.
Fala também o exemplo dos EUA, que o critério da cor de pele define a classificação de uma variedade linguistica; do Japão, que a diferença de uso se dá entre homem e mulher e da Inglaterra que é definida pela classe social, critério político.
Irene expõe que o critério para determinar a classificação das variedades é o da escolarização, apontando que o acesso a educação acompanha a má distribuição de riqueza nacional e que embora o Brasil seja a 10° maior economia do planeta, é o 7° colocado entre os paises com o maior numero de analfabetos, sendo a média de escolaridade de quatro anos e meio.
A lingüista continua a discorrer dizendo que até mesmo o falante considerado culto não respeita a norma padrão todo o tempo, pois este recebe influências externas e internas.
Irene conclui dizendo que é necessário haver na escola o acesso à educação formal para que o indivíduo saiba se utilizar das variedades do português, adaptando-as em situações diversas.
Emilia compara as variedades, citando que os falantes cultos tem uma quantidade bem grande de roupas e os falantes das variedades menos cultas uma quantidade pequena.

Subtítulo: Pressão conservadora e mudança inovadora.

Irene expõe que uma pequena parcela da população consegue obter a classificação de falante culto, devido as desigualdades sociais.
A lingüista explica que a norma padrão impõe pressão sobre os falantes, a qual cresce na proporção do contato que o falante tem com as variedades consideradas mais cultas, diferentemente das variedades consideradas menos cultas que a pressão das regras é praticamente nula.
Fala também da grande pressão dos defensores da norma padrão par fazer com que ela fique inalterada, explicando que o PP irá sofrer alterações mesmo com essa pressão.
Irene explica que as variedades menos cultas se desenvolvem pois não sofrem a pressão da escola, porém lentamente vão sendo assimiladas pelos falantes mais cultos, deixando de ser estigmatizadas.

Subtítulo: O certo de hoje já foi o errado de ontem.

Irene para explicar as mudanças da língua e para demonstrar o que era erro no passado se tornou certo no presente, faz a comparação entre o verbo latino – laxare, em Italiano- lasciare, Francês- laissei com a forma do Português deixar, explicando que por meio do processo de assimilação  surgiu a troca do L por D.
Cita como exemplo um trecho da carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel I, onde a forma luxarei português arcaico era considerado norma padrão, mas com o tempo ficou em concorrência com deixar, até que foi substituído pela norma não padrão.
Aponta outras mudanças como a não conjugação dos verbos em uma oração que estão sempre no singular, característico da fala, enquanto o respeito á regra fora reduzido a linguagem escrita e a mudanças de significado, citando o exemplo de um trecho do livro “Quincas Borba” quanto ao uso do verbo aborrecer.
Irene conclui que quando as mudanças se estabelecem nas variedades mais cultas, acabam se tornando regra obrigatória, apontando que a norma padrão está sempre em atraso com relação às outras variedades lingüísticas, as quais estão em constante transformação.

Subtítulo: O poder simbólico da norma padrão.

Irene explicita que a conservação de uma norma em uma língua está ligada a importância política que possui, pois representa a língua falada das camadas prestigiadas.
A lingüista expõe que em sociedades onde há a democratização do ensino, as mudanças lingüísticas ocorrem de forma mais lenta, citando como exemplo a língua francesa que se enrijeceu há muito tempo.

Subtítulo: Democratizar a norma padrão criticando.

Dando seguimento, Irene enfatiza que é necessário que o ensino de gramática nas escolas se torne mais democrático, não ensinando apenas a gramática normativa, mas inserindo novas formas, novos usos linguisticos.
Irene conclui que a partir disto se reduziriam o abismo existente entre as variedades de uso ideal e real da língua. Aponta que a língua não é um bloco compacto, mas um universo complexo rico e heterogêneo.

Subtítulo: Ciência vs tradição dogmática.

Irene fala do embate existente ente os lingüistas que desejam uma democratização da língua contra os gramáticos tradicionalistas que impõem regras obsoletas e ilógicas.
Fala da onde “gramatiqueira” em ascensão, os novos defensores da língua, que propagam a ideia  de que os brasileiros não sabem falar português.
A lingüista explica a origem da gramática tradicional, que foi estabelecida antes de Cristo pelos sábios da antiguidade. Irene expõe que no inicio eram especulações filosóficas que adquiriram com o tempo caráter dogmático.
Aponta que com o nascimento da linguistica que se deu no inicio do século XX, houve um abalo no prestigio na gramática tradicional, mas que não foi o suficiente para mudar conceitos de certo ou errado.
As estudantes comentam o uso da gramática tradicional nos vestibulares, apontando que não é necessário saber a gramática para o individuo conseguir transmitir com eficiência suas ideias e comunicar.

Título: Índio sim, com muito orgulho – uso do pronome mim como sujeito de infinitivos.

A noite na escolinha, Irene anuncia o tema a ser discorrido, o uso do pronome oblíquo mim. As estudantes discutem o uso do pronome, apontando que a construção não era culta.
Irene contrapõe-se dizendo que para comprovar se uma informação é culta, deve-se comparar dados reais com pesquisas de campo.
A lingüista fala que a utilização do termo “para mim fazer” é um uso que ainda não se completara, que foi passando das variedades menos cultas para as mais cultas.
Irene conclui apontando que a construção já existe a muito tempo, comprovando o fato citando o exemplo do romance Inocência que em 1872 já usava “para mim atalhar” na publicação e propõe a tarefa de buscar explicações para fenômenos semelhantes na sintaxe considerada não padrão, se considerando três hipóteses.

Subtítulo: Cruzamento Sintático.

Irene expõe a primeira hipótese a de cruzamento sintático, através das frases exemplos: “João trouxe um monte de livros para mim” e “João trouxe um monte de livros para eu escolher”. Explica que o falante na tentativa de dizer as duas coisas cruza as duas e obtêm uma terceira que é a síntese ficando “João trouxe um monte de livros para mim escolher”.
Explica que o uso do pronome mim, que além de soar mais nitidamente dá ênfase ao seu enunciatário.

Subtítulo: Ganha quem chegar primeiro.

Na segunda hipótese, Irene expõe a regra de quem chegar primeiro fica com a vaga, partindo do exemplo “João trouxe um monte de livros ( ) escolher.
Apontando que na produção de enunciados semelhantes aparece 1° na fala a preposição para, que segundo a regra após o uso da preposição exige o uso de um pronome oblíquo.
Irene expõe também que quando o pronome indicar o sujeito do verbo, este deve ser do caso reto, segundo as leis da norma padrão preencheriam o exemplo citado.
Porém, a lingüista explicita que há uma tendência do falante em obedecer a primeira regra, pelo fato de haver uma preposição o pronome obliquo ocupa a vags, pois soa mais facilmente.

Subtítulo: Deslocamentos possíveis.

Dando  seguimento, Irene destaca situações em que o pronome oblíquo mim, quando aparece diante de um verbo no infinitivo não se constitui um erro, explicando através do exemplo: “É muito difícil para mim fazer isso sozinho”
Irene fala que o enunciado no principio pode aparentar estar errado, mas sugere deslocar “o termo para mim fazer” para outros lugares do enunciado fazendo surgir novas formas do mesmo.
Emília expõe um duvida quanto a uma oração que ouviu a secretaria do dentista pronunciar: “ Para mim lembrar de tudo agora fica difícil” apontando que o enunciado permite duas interpretações.
A lingüista sugere deslocar o enunciado para evitar ambigüidades. Aponta que a secretária talvez quisesse dizer duas coisas: dar opinião e exprimir sua dificuldade de lembra-se de algo, dizendo que ouve o cruzamento sintático, regra de “quem chegar primeiro” expondo que é um processo automático da língua, onde o falante na vai verificar as possibilidades de deslocamento.

Subtítulo: Ensinar criticando.

Irene expõe a necessidade de se explicar ao aluno à complexidade dos fenômenos da língua, apontando que os valores sociais os quais são atribuídos aos usos linguisticos, fazem com que uma construção seja prestigiada e a outra estigmatizada.
A linguista propõe um ensino critico da norma padrão, explicando que cabe ao professor ensinar que há duas formas diferentes em uso, mas que não há uma utilização da língua mais coerente que a outra, mas duas formas que são delimitadas pelos valores sociais.
Conclui dizendo que “a língua representa uma pessoa e se quiser negar valor a ela é negar o modo como fala”.

Subtítulo: Vamos exterminar os índios da linguagem.

Irene sugere uma atitude nova oposta a da pratica tradicional, que estigmatiza o uso do pronome mim antecedendo verbos no infinitivo.
Aponta que tal construção é vista com preconceito pelos paradidáticos, que expõem que “só o índio fala para mim fazer” sugerindo que os falantes são “brutalizados e ignorantes”.
Emília faz uma comparação entre o extermínio do modo da fala do índio e do extermínio que os conquistadores do continente americano fizeram contra muitas nações indígenas.
A lingüista expõe alguns apontamentos feitos pelos lingüistas Pierre Bourdieu e Maurizzio Gnerre que de modo geral concluem que a norm padrão ao mesmo tempo que funciona como um instrumento de ascensão social, bloqueia e restringe o acesso ao poder.

Subtítulo: Quem disse que só eu pode fazer?

Irene expõe que o argumento muito utilizado pelos paradidáticos “mim não faz nada”, está em contradição com regras da gramática normativa.
Explica que não é somente o pronome pessoal eu que possui a função de sujeito, citando o exemplo “Deixa-me ver isso”em que o sujeito do infinitivo é o oblíquo me.
Expõe que segundo a gramática normativa em uma construção que haja os verbos: sentir, deixar ouvir e ver seguidos de infinitivo, é exigido o uso do pronome oblíquo para ocupar a função de sujeito dos infinitivos.
A lingüista fala que em frases iguais a citada como exemplo, é mais comum usar o pronome pessoal eu do que o pronome oblíquo mim.
Irene retoma a regra do “quem chegar primeiro” explicando que o pronome eu exerce duas funções sintáticas, de objeto direto da 1° e de sujeito da segunda.
Explicita que a gramática brasileira optou pelo afastamento da gramática portuguesa que empunha o uso do pronome me de origem latina, se decidindo pelo uso do pronome eu para exercer duas funções.
Aponta que há uma grande diferença entre o uso em Portugal e no Brasil, que se dá no tratamento do sujeito nas orações. Irene explica que em Portugal apaga-se o sujeito e enuncia o objeto, e no Brasil anuncia-se o sujeito e apaga o objeto.
Usa-se da pergunta exemplo: Quem já foi ver o filme do Almodóvar? Para comparar as enunciações de um brasileiro que diria “Eu vi ontem” e a de um português “Vi-o ontem”.
As estudantes a partir do primeiro exemplo “deixa-me ver” apontam o fenômeno de contração na fala, que na enunciação aparece “xovê”.
Irene também apresenta outras contrações como a palavra “embora” que se originou da contração “em boa hora” e Vossa Mercê, que se tornou você e como ultima forma de contração “ce”.
A lingüista conclui dizendo que é necessário que os professores saibam quais mudanças e avanços estão acontecendo na língua, para que possam oferecer um ensino mais democrático.
Ao final da aula Irene propõe uma “prova” que seria uma analise de um texto em PNP para encontrar os fenômenos descritos , para saber o que as universitárias aprenderam no decorrer  do curso intensivo.

Título: Pondo a mão na massa.

No ultimo dia de férias,  no período matutino, as estudantes se reúnem na escolinha para fazer a prova que a tarde será corrigida, pois as oito horas da noite regressarão para São Paulo.
Irene distribui o texto para ser analisado, um poema escrito pelo poeta sertanejo Antonino Sales “Malinculia”.

Subtítulo: Melancolia de corpo e alma.

As estudantes lêem juntas o poema, levantando considerações mais relevantes para a analise.
Às três da tarde se reúnem novamente na escolinha para a ultima aula daquelas férias.
Irene lhes pergunta se conseguiram descobrir muitas coisas e por onde desejam começar.
As estudantes iniciam pelo titulo: malinculia que no PP é melancolia, porém não sabem explicar o porquê da transformação.
Assim, a linguista começa a explicar pela etimologia da palavra que vêm do grego melan que significa negro, preto e escuro mais Kholê bile. Irene aponta que para o grego melancolia significava estar com a bile preta, explicando que havia antigamente na cultura grega a crendice de que nosso corpo produzia líquidos chamados humores, que afetavam o estado emocional das pessoas.
Apesar da crendice ter sido desfeita, a palavra criou raízes na língua e permaneceu seu uso.
Irene cita outras palavras que marcam relação entre doença e estado emocional, como cólera, agoniado, náusea, nojo, desgosto.
Após essa explicação a lingüista expõe que a forma melancolia possui diversas palavras equivalentes no PNP, como malinculia, malencunia, malencolia, malinconia.
Indica que essas formas que se apresentam no PNP são arcaísmos linguisticos.
Aponta que a palavra malinculia que em brasileiro é considerada uma forma de linguagem não padrão, em italiano é a forma oficial da palavra.
Irene explica que as diversas formas que se apresentam para a palavra melancolia tanto em português quanto em italiano , se deve a troca da consoante  L por N, fenômeno de rotacização.
A linguista cita outros exemplos como a palavra do latim Livellu que originou em PP nível em francês Niveau do árabe naranja / laranja e da palavra do latim anima que resultou em alma.

Subtítulo: Análise do poema.

Vera, Silvia e Emilia a partir do que fora explicado por Irene, iniciam seus apontamentos sobre os fenômenos da língua que observaram no curso intensivo. Indicam o fenômeno de eliminação do r final das palavras como “isprica e frô” como a tendência de a língua portuguesa tem de terminar as palavras com vogais.
Apontam o fenômeno de rotacização do L presente na poesia com os exemplos: alma- arma/ palma- parma ; e do fenômeno da redução dos ditongos pelo efeito da assimilação citando dentre os exemplos as palavras: sodade- saudade, paxão-paixão.
As estudantes demonstram também que no poema há a redução de plurais redundantes, e a desanalizaçao das silabas postônicas.
As universitárias apontam o uso da palavra prefumada que deriva da forma perfumada.
Irene explica que a palavra prefumada em PNP se originou dos prefixos latinos: pré, pro e per, que no inicio foram utilizados indiscriminadamente na formação das palavras.
A lingüista cita que com o tempo o vocabulário foi padronizado e algumas forms foram consideradas certas e outras erradas. Compara com a palavra perguntar que deriva do latim precunctare, forma mais próxima do PNP preguntar.
Irene aponta que com os supostos erros do PNP aprende-se a historia do PP e seu funcionamento.

Título: A primeira semente- considerações finais, por enquanto.

Irene como considerações finais do curso intensivo, aponta que o trabalho desenvolvido com as estudantes não poderia demonstrar todas as características que diferenciam o PP do PNP, mas que tinha ao expor alguns princípios o objetivo de encarar a norma não padrão de outra maneira, expondo que falar diferente não é falar errado, que a variedade do PNP tem aspectos lógicos que se encontram em outras línguas, traços de arcaísmos. A lingüista conclui que através desses princípios pode se construir a base de uma nova proposta no tratamento das variedades linguistica na educação brasileira.

Subtítulo: Semente, flor e fruto.

Irene fala que descrever a gramática do PNP é uma tarefa difícil.
Expõe que é difícil dissipar o preconceito em nossa sociedade contra a linguagem não padrão, pois é uma crença antiga. Assim o preconceito que pesa sobre o PNP povoa a mente das pessoas, situado no “porão” da imaginação, onde se localizam mitos e preconceitos.
A lingüista conclui a aula dizendo que a partir de uma simples semente implantada em nossa sociedade, fará crescer uma grande árvore, que mudará a mentalidade das pessoas  frente a preconceitos.

Título: A partida.

Na rodoviária de Atibaia estão as estudantes e Irene reunidas para a despedida. Vera, Emília e Silvia agradecem a Irene pelas aulas e complementam que voltarão a São Paulo diferente de quando saíram.
Irene em clima de despedida noticia que uma editora se interessou em publicar seu livro sobre o PNP, e que ela o fará em homenagem a elas e também a Eulália, inspirando no seu nome que cuja etimologia no grego significa “a que fala bonito” para dar título ao livro.
Assim, as estudantes muito felizes se despedem de Irene e retornam para São Paulo.


RESENHA:

A obra “A língua de Eulália” de Marcos Bagno, publicada pela primeira vez no ano de 1997, traz para o contingente de pesquisas lingüísticas um novo modo para abordar as questões referentes ao PP e ao PNP, partindo do pressuposto de explicar a ocorrência de fenômenos na língua que são estigmatizados ou conceituados como errados a partir de explanações lógicas na variedade de PNP.
Bagno desenvolve a narrativa de uma maneira irreverente, através de uma linguagem de maior acessibilidade, fazendo com que o seu leitor entenda os discursos, mesmo aqueles que nunca tiveram contato com a disciplina de linguistica.
A leitura instiga àquele que lê para o assunto a ser abordado, pois os capítulos possuem amarrações, como o próprio título sugere uma novela da sociolingüística.
Outro aspecto observável da obra são os diálogos entre a professora Irene e de suas alunas, Vera, Sílvia e Emília, que permeiam o livro, que conforme a narrativa avança a partir dos questionamentos, percebe-se que as personagens vão modificando os conceitos quanto às variedades lingüísticas, refletem quanto a seus usos passam a ter conceitos bem mais coesos fora do senso comum, o qual guia pela forma de julgamento precipitado.
Visando tornar as explicações mais atrativas e objetivas, a personagem Irene demonstra em diversas passagens do texto quadros e trechos de poemas como “Os Lusíadas”, valendo destacar para a música “Cuitelinho” de Nara Leão, que retrata o modo da fala PNP para explicar a ocorrência dos fenômenos linguísticos.
Através da personagem Irene, uma lingüista renomada aposentada, Bagno apresenta uma fundamental mudança quanto à perspectiva de ensino de gramática nas escolas, mudança que parte das pesquisas na língua, pesquisas na área da novíssima ciência, linguistica. Então a perspectiva visa que o ensino de língua materna não permaneça restrito ao ensino de gramática tradicional normativa, como pregam muitos gramáticos e paradidáticos, mas procurar entender o porquê de certos usos e da existência de tantas variedades em nossa língua.
Irene passa a enfocar a temática a partir de uma manifestação de preconceito que as três hóspedes apresentaram quanto ao modo de falar de Eulália.
Assim, se percebe o preconceito linguístico que aponta diretamente para pessoas que são estigmatizadas pelo seu modo de fala e nível escolar, um conceito concebido antecipadamente, como sugerem as estudantes, que se manifesta diariamente na sociedade.
A partir disso são explicitados os objetivos do livro, que são demonstrar que não há uma variedade correta e outra errada, mas sim variedades diferentes que possuem lógica,  que não há uma língua única, mas uma variedade de dialetos e expor como o ensino de língua portuguesa é ministrado nas escolas brasileiras, de forma autoritária e sem reflexão.
Sendo assim a obra volta-se para o plano das variedades PP e PNP, ressaltando-se o poder da norma padrão sobre as outras variedades, tendo o caráter de representante social e político do país, denominado como “a língua do patrão”, a qual delimita as classes sociais.
Apesar de ser a representante legal da língua portuguesa, não corresponde a realidade que não está enrijecida, mas em constante transformação.
Pelo fato de a linguagem padrão ser mais prestigiada, o sistema escolar brasileiro encontra dificuldades para aqueles alunos que não vem de um ambiente onde essa variedade é circulada, dificulta, pois a aprendizagem desse aluno considera-o deficiente ou como uma folha em branco a ser preenchida.
 Essa visão rememora a ideologia do Dom descrita por Magda Soares em seu livro intitulado “linguagem e escola uma perspectiva social” que expõe “as causas do sucesso e do fracasso dependem do próprio indivíduo”. Segundo essa ideologia a escola oferecia uma igualdade de oportunidades, porém o domínio do conhecimento era individual. Assim se legitimavam as diferenças, pois aprendia aquele que tinha “dom”.
O que de fato não é real, pois um dos fatores principais que acarretam no fracasso escolar de um aluno é a desconsideração que é imposta pela escola da linguagem e da cultura do aluno, que é tida como inferior. O aluno fracassa, pois nada que vê na escola tem relação com o ambiente em que vive o conhecimento é imposto de maneira agressiva e preconceituosa fazendo o aluno se sentir rejeitado e marginalizado.
A escola de fato, fez e faz com que o ensino de língua materna fique didatizado e apático, pois muitos docentes se recusam a se adaptar e aceitar as mudanças da língua, mostrando resistência frente às manifestações lingüísticas.
Cabe a escola democratizar o ensino proporcionando ao aluno acesso a educação formal, porém sem rejeitar ou discriminar as variedades lingüísticas, se desapegando do foco gramatical visando uma nova perspectiva de ensino, menos autoritário e mais crítico.
Após a leitura do livro, assim como Vera, Emília e Sílvia sofri uma grande transformação no meu modo de pensar e de me manifestar quanto as variações lingüísticas, pois como estudante de letras reprovava certos usos da língua como o uso do “para mim fazer”, corrigindo as pessoas, como muitos o fazem sem lhes oferecer uma explicação lógica do uso, o porquê do “certo ou errado”.
Cometi, pois um equívoco, pois não conhecia com maior aprofundamento a língua, mas somente as suas regras.
Então a partir do entendimento que o PNP é uma variedade diferente e não errada, cria-se um ensino critico de língua portuguesa, sendo esse objetivo de Bagno ao explorar a temática da sociolingüística.
Em resumo, faz-se necessário apontar a necessidade de um ensino crítico da língua que faça com que a variedade PNP não seja mais estigmatizada, mas entendida, mudando, pois a realidade de uma língua e o seu modo de ser vista e usada por um povo.